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Mostrando postagens de 2014

Renascimento no budismo

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Saṃsāra, traduzido para o chinês como 輪廻, lún huí em chinês, ou rinne em japonês, é o termo que se refere ao ciclo de nascimentos e morte do budismo. Às vezes é traduzido como transmigração, outras como renascimento, e muitas vezes como reencarnação (termo este tido como inapropriado. Três termos muito próximos, mas cujo significado leva a intrincadas discussões. O trecho a seguir faz parte do livro A vacuidade e o não eu - A concepção linguística do budismo (空と無我 ー 仏教の言語観) , escrito por Akira Sadakata. Nesse trecho, Sadakata fala sobre sua opinião a respeito do conceito de saṃsāra de uma forma crítica, tema este controverso e complicado dentro do sistemas filosófico do budismo. Decidi deixar a palavra rinne traduzida por transmigração por considerá-la mais adequada no contexto. O conceito de transmigração é supérfluo Pela religião cuja existência eu reconheço, o conceito de transmigração é claro. Porém, o budismo que declara o conceito de anatma (selfless, não-eu) prod

A época de Saichō e Kūkai

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Imperador Kammu O imperador Kammu via o budismo do período Nara com indiferença. Mas isso não significa que o budismo em si era geralmente recebido do mesmo modo. Por se tratar de um novo imperador, uma nova ideologia também era necessária, e o o budismo vigente não satisfazia este propósito. Neste momento entram em cena Saichō (767-822), fundador da escola Tendai, e Kūkai (774-835), fundador da escola Shingon. Estes dois abriram caminho para esta nova fase do budismo japonês. Os dois faziam parte da mesmo grupo de enviados à China da dinastia Tang, porém suas personalidades diferiam muito. Eles tiveram a oportunidade de estudar na China do começo do século IX. Na mesma época, a escola Tendai fundada por Zhìy ǐ (jap. Chigi, 538-597), o Budismo Esotérico (Tantrismo) que fora transmitido diretamente da Índia e a escola Kegon fundada por   Fǎzàng  (jap. Hōzō, 643-712) floresciam. Saichō aprendeu a doutrina Tendai, teve um breve contato com o Budismo Esotérico e reto

O budismo pelos olhos ocidentais

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"Ocidental convertido, eu encarava o budismo como um conjunto de doutrinas filosóficas, preceitos éticos e práticas de meditação. Para mim, ser budista era simplesmente levar a vida de acordo com os valores centrais da tradição: sabedoria, piedade, não violência, tolerância, serenidade e por aí afora. Morar na Coreia me fez descobrir até que ponto era ingênuo. Pelos meus critérios intransigentes, um ditador de farda, que suprimira com violência um levante popular, não podia ser budista. Mas, por que não? O budismo é só para os moralmente superiores e doutrinariamente corretos, que se sentam em piedosa meditação o dia inteiro? Agora começava a perceber que ele constituía uma identidade cultural e religiosa, um sistema graças ao qual seres humanos falíveis podiam tomar decisões difíceis neste mundo precário e imprevisível." Confissões de um ateu budista Stephen Batchelor

Da prática

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Certo dia, o oficial Po Chu-I, passando pela estrada, viu um monge Zen sentado no galho de uma árvore ensinando o Dharma. O seguinte diálogo se sucedeu: Oficial: "Velho homem, o que estás fazendo nesta árvore em uma posição tão precária? Um deslize e cairás desta árvore para a morte! Monge: "Atrevo-me a dizer, Vossa Senhoria, que vossa posição é até mais precária. Se eu cometer um deslize, sofrerei sozinho; se, como um oficial de alta posição, você cometer um erro em uma decisão, seu erro pode custar a vida de milhares." Po Chu-I, sentado em sua liteira ornamentada, ficou perplexo. Ele refletiu por um momento e retrucou: Oficial:  "Boa resposta. Dir-te-ei algo. Se puderes me explicar a essência do Budismo em uma frase, tornar-me-ei teu discípulo. Caso contrário, separaremos nossos caminhos e jamais nos encontraremos novamente." Monge:  "Que fácil questão! Ouça! A essência do Budismo é não fazer o mal, fazer o que é bom e manter sua m

Os Dez Mil Fenômenos não possuem Natureza Verdadeira

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Esta é uma carta do Mestre Yin Kuang escrita para o leigo Kao Shao-lin. Com a sua carta, soube que nos dias recentes você este engajado em cultivações sinceras, se autoexaminando, consertando seus caminhos e seguindo o passo dos sábios, sem desejo pela fama vazia. Estou realmente feliz por isso! Para seguir os passos dos Budas e sábios e escapar do Nascimento e Morte, você deve primeiro desenvolver uma atitude de vergonha e arrependimento, abandonar os maus caminhos, realizar ações sadias, manter os preceitos e praticar auto-domínio. Você deve ter como alvo a Verdade e praticar suas habilidades máximas. Caso contrário, haverá engano dentro de engano. Assim, compreender o Dharma não é difícil; prática é a dificuldade real! Muitas pessoas inteligentes apenas verbalizam, mas falham em praticar. Eles, então, desperdiçam uma vida inteira, arruinando uma visita à montanha de jóias e retornando de mãos vazias. Que lamentável! Seus pensamentos deludidos se exaltam descontrolados pois

Zen, Terra Pura e Disciplina

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É comum existir pessoas que se digam budistas, mas não são vegetarianas. Algumas acreditam realmente que budismo e vegetarianismo não tem nenhuma relação, às vezes até sendo sarcásticas quanto a isso. É comum a visão do budismo como sendo uma "filosofia livre de regras". No texto abaixo há uma breve referência à prática budista chinesa do século XVI. Este texto desmitifica essas ideias comuns que as pessoas tendem a conectar tão facilmente com o budismo. Um espelho para estudar o Zen Yī Yuān Zōng Běn Não há nada de particularmente especial sobre o método de estudar o Caminho: simplesmente purifique as faculdades sensoriais e os objetos sensoriais [1] .  Boas pessoas! se vocês quiserem cultivar a iluminação suprema, vocês devem manter firmemente a disciplina e uma dieta vegetariana. Se vocês não mantiverem a disciplina estritamente, jamais alcançarão a iluminação. Por quê? Disciplina é a principal dentre miríades de práticas, a base das seis 

Uma conversa franca

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Depois que saí de casa, eu fui a todo lugar estudando e visitando professores. Naquela época o centro de ensino do Mestre Pien-jung estava florescendo, então eu fui à capital falar com ele. Ao encontrá-lo, ajoelhei e pedi repetidas vezes por sua instrução. Ele me disse: "Você deve prender-se a suas obrigações fundamentais. Não anseie por fama nem persiga ganhos. Não se apegue àqueles que você acha que vão te ajudar. Apenas esteja consciente sobre a lei de causa e efeito, e pratique a evocação de buda [Nenbutsu] de todo o coração." Aceitei seu ensino e parti. Meus companheiros de viagem riram de mim, pensando: "Qualquer um poderia dizer estas frases. Você veio de tão longe e isso é tudo que Pien-jung te diz! Onde está a elevação, a sutileza? Na verdade este conselho não vale nem meio centavo!" Eu disse: "Isto mostra precisamente o que é bom nele. Estávamos sedentos de conhecimento, procurando por ele, esperando reverenciá-lo e viemos de longe. Mas

Bases para a leitura de Sutras

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O que está escrito nos sutras do grande cânone não é mais do que disciplina, concentração e sabedoria. Ao ler as escrituras, há dois tipos de erros. Um erro é se agarrar no texto literal e perder os princípios internos.  O segundo erro é reconhecer os princípios, mas não aplicá-los a sua própria mente, então você desperdiça tempo e as transforma em causas de embaraço.  Se você puder compreender totalmente a prática da disciplina, concentração e sabedoria, isto é, por si só, chamado, nos escritos do grande cânone, de constantemente cumprir de momento a momento e ser plenamente atento em relação aos milhares de milhões de volumes de sutras. Yùn Qī Lián Chí  Devemos também reconhecer que esta disciplina, concentração e sabedoria são equivalentes ao método de recordação do buda. Como assim? Disciplina significa prevenção a más ações. Se você for capaz de praticar a prática de evocação do buda incondicionalmente, o prejudicial não ousará entrar - esta é a disciplina.

Versos de originação do desejo de salvar a todos os seres sencientes

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発願文 Hatsuganmon Texto escrito por Saichô aos vinte anos de idade. Nos três mundos que não são necessariamente calmos há, exclusivamente, apenas sofrimento e não há nem mesmo um pequeno lugar de tranquilidade. Há apenas seres sencientes (nós) sofrendo em confusão e desordem, e não há nem mesmo alegria. A luz do sol de Sakyamuni está escondida por nuvens a três mil anos de distância, e o reflexo da lua de Maitreya ainda não ilumina este mundo. O perigo das três calamidade [1] está perto e estamos afundados no profundo lodaçal das cinco impurezas [2] . Não apenas isso, mas assim como a vida humana é difícil de capturar, tal qual o vento, o transitório corpo humano facilmente se extingue. Nas casas de colmo não há com o que se alegrar, o jovem e o velho em vão perseguem e abraçam a sensação de uma vida pacífica, mas terminarão por expor seus ossos brancos. As covas são escuras e estreitas, e os espíritos dos valiosos e dos humildes habitam em contenda no solo.  Ao olhar p

Incompreensões e costumes

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Li a seguinte história é relatada no livro "Budismo, o real ensino - Compreensões e Incompreensões da Índia, China e Japão" (仏教、本当の教え・インド、中国、日本の理解と誤解), de autoria do Professor Masatoshi Ueki, ainda sem tradução para o português. Diz o autor que um dos motivos que o levaram a estudar sânscrito foi o seguinte: Quando criança, uma dúvida não o largava. Ao dormir, ele sempre "ousava" dormir com a cabeça virada para o norte. Em japonês existe uma palavra, 北枕, kitamakura. Kita é a palavra japonesa para "Norte", e makura , "travesseiro". Basicamente, dormir com a cabeça virada para o norte. Ao dormir virado para o norte, sua avó vinha rapidamente mudar seu colchão e travesseiro de lugar direcionando-os ao Sul e ralhava com ele dizendo "Dormir assim dá má sorte!". Quando sua vó não estava, dormir virado para o norte era sua forma de se rebelar. Ele pensava: "Se houver no Budismo um padrão ou regra que diga que se deve dormir virado p

A vida é curta

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Curta é a vida, de fato! Perecemos antes dos cem anos. Contudo, mesmo vivendo mais que um século, no fim perecemos. É pelo apego que as pessoas se afligem. "Impermanente são as propriedades neste mundo: tudo é suscetível à mudança", - ao perceber isto, o sábio a nada se apega. Pela morte é descartado até aquilo que se acredita "Isto é meu". O que percebe isto não se entrega ao apego. Assim como ao despertar não se vê mais aquele com quem se encontrou no sonho, do mesmo modo não vê mais os entes queridos que faleceram. Aqueles que eram vistos e ouvidos e chamados por seus respectivos nomes, ao morrer apenas seus nomes permanecem. Os desejosos por objetos do apego não abandonam o sofrimento, o pesar e a avareza, mas os sábios que se livraram das posses, vivem em segurança. Para um bikkhu possuidor de uma mente desapegada, que habita num lugar isolado, é certo dizer que ele não transita mais nos vários reinos da existência. Um sábio que é completamente indepen

A casa em chamas

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火宅 遊んでる子供 気の迷い A casa que inflama Crianças brincando Mundo de delusão Dentro da casa as crianças brincam Tantos brinquedos coloridos, rodopiantes Cintilantes, extasiantes Brincam despreocupadas com o porvir Rodam o pião que asperge luzes pelos lados E depois jogam-no em um canto Onde permanece, esquecido, solitários “Há tantas coisas para se ver, tantos brinquedos novos Por que se deter em velhos brinquedos novos?” Busca-se por novidades como o respirar E nesta busca desvairada, as paredes da casa flamejam E fogo que impiedosamente consome Não são notados pelas tolas crianças envolvidas em jogos

O primeiro Buda

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Ao fazer oito anos, fiz uma questão ao meu pai: “O Buda é que tipo de pessoa?”. Meu pai respondeu: “O Buda é aquele em que uma pessoa se tornou”. Perguntei ainda: “O que uma pessoa fez para conseguir se tornar um Buda?” E meu pai: “Ela agiu conforme os ensinos de Buda”. Ainda perguntei: “Este Buda que ensinou aprendeu de quem?”. E ele: “Ele aprendeu com o Buda anterior e se tornou um Buda”. Então, novamente indaguei: “Afinal, como era o primeiro Buda que ensinou pela primeira vez?”. “Provavelmente era alguém que caiu do céu, ou então brotou inesperadamente da terra”, finalmente disse meu pai e riu. Depois disso, meu pai contava a várias pessoas se divertindo: “Sendo muito interrogado por meu filho, acabei não conseguindo responder corretamente.” Escritos das horas ociosas Yoshida Kenkō, monge budista do século XIV