Versos de originação do desejo de salvar a todos os seres sencientes


発願文
Hatsuganmon
Texto escrito por Saichô aos vinte anos de idade.

Nos três mundos que não são necessariamente calmos há, exclusivamente, apenas sofrimento e não há nem mesmo um pequeno lugar de tranquilidade. Há apenas seres sencientes (nós) sofrendo em confusão e desordem, e não há nem mesmo alegria. A luz do sol de Sakyamuni está escondida por nuvens a três mil anos de distância, e o reflexo da lua de Maitreya ainda não ilumina este mundo. O perigo das três calamidade [1] está perto e estamos afundados no profundo lodaçal das cinco impurezas [2] . Não apenas isso, mas assim como a vida humana é difícil de capturar, tal qual o vento, o transitório corpo humano facilmente se extingue.

Nas casas de colmo não há com o que se alegrar, o jovem e o velho em vão perseguem e abraçam a sensação de uma vida pacífica, mas terminarão por expor seus ossos brancos. As covas são escuras e estreitas, e os espíritos dos valiosos e dos humildes habitam em contenda no solo. 

Ao olhar para trás e se manter em vigilância, vê-se que esta verdade é inevitavelmente sem erro. Além disso, como não tomamos um remédio da imortalidade rejuvenescedor, por não conseguirmos segurar a alma que se vai, e por não possuirmos o poder sobrenatural de ver a existência futura, não sabemos o momento de nossa morte. 

Se fizermos o que é correto enquanto vivos, ao morrer não nos tornaremos lenha para o inferno.
Mesmo  se vivermos consideravelmente felizes neste mundo, em algum momento acabaremos morrendo. A virtude é difícil de ser realizada, e novamente, mesmo que a desenvolvamos, ela é repentinamente esquecida. 

De acordo com o Rei do Dharma Sakyamuni, tão difícil como encontrar uma agulha no fundo do oceano, ou arremessar uma linha do topo do monte Sumeru que passasse no buraco de uma agulha no pé do monte,
assim também é difícil obter um corpo humano.

O grande sábio Imperador Yu, da antiguidade, esforçando-se para valorizar cada mero minuto do Tempo de sua vida inteira e não desperdiçá-la com futilidades, acautelou-se.  Não existe a verdade de existir efeito sem causa. Não há como escapar do sofrimento sem se fazer o bem. 

Ao atenciosamente relembrar sua própria conduta, recebe-se os quatros utensílios [3] advindos da salvaguarda dos preceitos. 

Por causa de um coração tolo, no futuro acaba-se por receber o ressentimento das pessoas. No Sutra das Causas e Condições Sem Precedentes [4] fala-se que aquele que faz doações renasce no Paraíso, e aquele que recebe as doações cai no Inferno. Por este motivo, a senhora Vaidehī [5] ofertou os quatro utensílios e pode renascer como Rainha Mari, porém os cinco monges que cobiçaram as oferendas da cerimônia renasceram como suas criadas estéreis portadoras do palanquim, e além disso sofreram humilhação pelo crime da falsidade.

Ah, a causa e o efeito dos bons e maus atos são realmente claros. Há alguém que possua a vil vergonha de conhecer mas não acreditar neste texto? Por isso o Honrado pelo Mundo, sabendo que os efeitos das causas certamente virão, admoestou aos icchantikas sobre o quão raro é obter um corpo humano, mas inutilmente não praticar boas ações é o mesmo que entrar numa montanha de tesouros e voltar de mãos vazias.

Aqui, o mais tolo entre os tolos, o mais louco entre os loucos, a poeira exaurida dos seres sencientes, o mais baixo Saichô, não sendo contrário aos ensinos dos Budas, jamais contrariando as Leis Imperiais, e nunca negligenciando a gratidão filial, faço o voto de deixar de ser um louco desviado e realizarei os seguintes objetivos: não sendo aprisionado por nada, utilizando meios hábeis, tendo o Supremo Despertar para a Verdade Universal como objetivo, como um vajra indelével, desperto os votos do meu coração,

Primeiro, até que eu suba no trono da purificação dos seis sentidos, não habitarei em casa de outrem.

Segundo, enquanto meu coração não se iluminar com a Verdade Suprema, não serei influenciado pelos talentos e realizações.

Terceiro, enquanto não completar a pureza dos preceitos, não atenderei nem assistirei cerimônias religiosas.

Quarto, enquanto não obter um coração de sabedoria, não me envolverei com responsabilidades ou relações sociais mundanas. Porém, este voto não mudará mesmo após ter subido ao trono [da purificação dos seis sentidos].

Quinto, que as virtudes provenientes da realizações destas práticas não sejam apenas recebidas por mim, mas que circunde a todos universalmente, e que todos juntos obtenham o melhor despertar.

Plataforma de Preceitos localizado no Monte Hiei

Humildemente eu peço que não seja apenas eu a entender e experimentar a compreensão do Dharma, que não seja só eu a desfrutar o conforto, mas que todos possam igualmente alcançar a rara experiência, e que todos possam compreender o excepcional significado. Se através da força de vontade de ascender ao trono da Purificação dos Seis Sentidos eu obtiver os Cinco Grandes Poderes [6], que não apenas eu, mas todos os seres compreender o Dharma do Despertar.
Eu peço que, indubitavelmente, eu seja conduzido pelos Quatro Grandes Votos Originais de Buda, e que todos os seres do Dharmadhatu realizem universalmente as virtudes, que eu possa purificar este mundo transformando-o em uma Terra de Buda, que todos acumulem boas ações indefinidamente e que todos  os seres sejam salvos  por eu realizar os trabalhos dos Budas.







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[1] Incêndio, inundação e tempestade.
[2] Fome, desastres naturais, propagação dos pensamentos nocivos, desejos d estrutivos, a impureza dos seres, o encurtamento da vida.
[3] Vestimentas, alimentos, kesa e remédios de infusão.
[4] 未曾有因縁経
[5] Chamado aqui de 提韋 [Dai-i], provavelmente se refere a Vaidehī 韋提希, personagem do Sutra da Meditação do Buda Amitayus [Amitāyurdhyāna Sūtra].
[6] O olho divino, o ouvido divino, a penetração em outras mentes, a capacidade de ver as existências passadas, desimpedimentos das habilidades do corpo

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