A Parábola da Serpente

O Iluminado dirigiu-se aos bikshus dizendo:

"Vocês, bikshus, entendem o Dharma do mesmo modo que este bikshu, Arittha, o domador de abutre, compreendeu anteriormente? Pois ele, falhando em compreender o significado correto, interpretou erroneamente meus ensinos e cavou uma cova para si mesmo, e por consequência gera demérito. Assim vocês procedem ao compreender?"

"Certamente não, Lorde, pois de diversas maneiras o Iluminado nos conta sobre os obstáculos, e eles são obstáculos reais para aqueles que perseguem os prazeres. O Lorde disse que os desejos são insáciáveis, cheias de pesar e de sofrimento. Disse que os desejos são como esqueletos, como um pedaço de carne, como uma tocha flamejante, como um carvão ardente, como um sonho que se esvanece, como algo emprestado."

"Exatamente, bikshus! Entenderam bem o Dharma. Porém, este bikshu, Arittha, não compreendeu, e cavando uma cova para si mesmo, provoca seu próprio prejuízo que o atormentará por longos anos.

Aqui neste momento, alguns perdidos aprendem com destreza o Dharma de cor, as exposições, os versos, os ditos solenes, as palavras do mestre, os contos de nascimentos, as maravilhas e as miscelânias. Tendo assim decorado as palavras eles não investigam o significado com sabedoria, não se interessam pelo sentido, mas apenas para ficarem livres de repreensão, apenas para não serem alvo de fofocas. Porém, eles não têm parte nem por completo a essência dos ensinos. Os ensinos são entendidos de modo deficitário, e os conduzem para a perda e ao sofrimento por muito tempo. Por quê? Por não terem entendido corretamente.

É semelhante a um homem que precisa de cobras-d'água as procura, e ao encontrar uma a agarra pelo corpo ou pela cauda, e a cobra-d'água se volta e morde sua mão ou braço ou outro membro, causando assim seu sofrimento ou sua morte. 

Deste modo também alguns perdidos aprendem o Dharma de cor, e sofrem por compreenderem erroneamente.

Majjhima Nikāya, i, 132


Sutra adaptado.


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